O que se passa com A Biblioteca de Zoran Živković é que ficamos perante um problema de gestão de expectativas, plantado pela Cavalo de Ferro quando esta opta por transcrever uma parte de uma crítica do The New York Times Book Review que remete a obra para um patamar superior.
A Biblioteca é uma interessante colectânea de contos (estranhamente ganhou o World Fantasy Award, em 2003, na categoria de novela), mas está longe de ser uma obra-prima ao nível da obra de J. L. Borges. Os seis contos que a constituem tem a mesma estrutura circular que os de Borges e em muito vão beber na relação que o mestre argentino tinha com os livros e as bibliotecas, mas morrem aí as similitudes.
São seis bibliotecas: virtual, particular, nocturna, infernal, minimal e requintada que nos vão sendo descritas, contadas e vividas e na verdade acabam por nos ficar próximas, mas não tão próximas como deviam, pois algum tempo volvido o que resta delas é um esbatida memória do que nos foi contado.
Para que a surpresa e quem sabe algum deslumbre se não perca, não me irei estender sobre os universos que povoam cada conto, mas não deixarei de apresentar uma alternativa ao desfecho do último de modo a o tornar mais coerente. Assim, de forma a fugir ao trivial, este assomo bibliofágico, A Biblioteca Requintada, teria de ter um desfecho em que o livro desaparecia depois de iniciada a sua leitura, demonstrando-se assim a sua inferioridade ou encadernando-o de modo a lhe atribuir “nobreza” necessária, desaparecendo este depois de ter sido transformado. Este acto de bibliofagia lembra-me demasiado a querida ratazana Firmin ou as degustações de Ratatui que apesar de me terem agradado imenso, me surgem aqui disparatadas.